RECANTO DAS LETRAS

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O MEDO E SUA CUMPLICIDADE RELACIONADA À VIOLENCIA URBANA

Estamos em uma era onde a cultura de massa é constantemente influenciada pelos recursos tecnológicos de informação, tais como a Internet e a televisão; o primeiro se desenvolve em passos acelerados, se auto-inventando através de seus complexos meios de informação e contra-informação, a internet é o maior dos meios de comunicação de massa e por ela são trocados milhares de informações todos os dias; o segundo meio de informação de massa é a televisão e sua grade de canais onde são apresentados diariamente programas de entretenimento, jornalismo, musicais, artes e educacionais.
Independente do veiculo de informação, percebemos todos os dias em ambos, como está sendo disseminada à semente do medo. Observem a gama de noticias que recebemos a cada segundo de algum caso de violência praticado contra a vida humana; são assassinatos por motivos passionais, são mortes provocadas por alto consumo de álcool e essas mortes deixam vitimas no trânsito e nas comunidades de bairros de periferia.
A violência toma corpo nas batalhas televisionadas pelos veículos de comunicação patrocinados por governos de países que adotam a guerra como a principal política, por outro lado o chamado “terrorismo” amedronta nações inteiras e em especial uma delas que fez do medo sua principal política; falo dos EUA que desde o dia 11 de Setembro de 2001 assistiu juntamente com o resto do mundo os atentados as torres gêmeas do World Trade Center, dois aviões se chocaram violentamente em um dos mais audaciosos atentados terroristas que o mundo já viu, o governo americano liderado pelo então presidente George W. Bush começa a caçada violenta em busca dos culpados, ataca o Afeganistão, porem essa investida só abre caminho para outras empreitadas armamentistas do Governo Bush, nesse momento o povo americano se vê inteiramente preso, sair de casa agora era um motivo para se redobrar a atenção, pois a cada esquina poderia estar presente um terrorista preste a atacar.
O EUA torna-se a referencia mundial em se tratando de medo, esse sentimento que aprisiona e que impulsiona os que querem praticar a violência com todas as suas faces e é com os meios de informação de massa que o chamado “ataque de nervos” vai se desenvolver.
Voltemos os nossos olhos para a violência urbana que atinge principalmente os paises menos desenvolvidos, em especial o Brasil que em duas grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo essa violência é mais acentuada.
Segundo pesquisa desenvolvida no Departamento de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense no estado do rio de Janeiro essas duas cidades “apresentam as maiores discrepâncias em termos de desigualdades social e habitacional, estas são reveladas pelos índices de renda, pelas fortalezas e bunkers urbanos” a violência que se dá nessas duas capitais são dignas de paises em guerra, armas de grosso calibre, sequestros e uma policia extremamente despreparada fizeram com que o cidadão se protegesse em residências que lembram verdadeiros castelos medievais, seja com grades ou gigantescos murros repletos de câmeras de segurança.
Mas essa segurança é de exclusividade dos mais favorecidos financeiramente, famílias que se assustam com o que a imprensa impôs como a violência vinda das favelas; complexos habitacionais que contrastam com a paisagem dessas cidades, porem nas favelas não só residem os que arquitetam o mal, lá residem famílias trabalhadoras, estudantes, emfim pessoas que infelizmente por falta de oportunidade chegaram oriundas muitas delas da região nordeste brasileira, em busca de trabalho e de uma vida menos sofrida.
No livro O mal-estar da pós modernidade o autor Bauman diz:
“A expressão da pobreza e da miséria na precariedade habitacional não se esgota na falta de teto, mas, se estende às favelas, as quais não abrigam hoje a faixa mais pobre da população, mas certamente constituem os territórios populacionais mais “temidos” pelas outras classes sociais. É a população favelada, que cresce a cada ano, o alvo mais atingido pelos enunciados jornalísticos criminais, onde se reproduz os estigmas criminais mais contundentes”
Agora a luta entre o “morro e o asfalto” só criará uma população acuada, medrosa e prestes a obedecer a qualquer custo os pedidos da violência, não é difícil ver que narcotraficantes comandam o comercio exigindo que fechem suas portas, isso aumenta ainda mais o medo, o homem contemporâneo tranca-se em suas casas e de lá começam a criar um novo modo de vida, onde as relações sociais são feitas pelas ondas do telefone celular ou da internet( mesmo sabendo que ambas as tecnologias podem ser encontradas em um único aparelho que é televisão,maquina fotográfica, filmadora digital, radio e internet) é a chamada convergência digital.
Todos os continentes estão passando por esse período de recriação do meio de se conviver na sociedade. O medo é a causa maior desse enclausuramento urbanístico e do avanço da violência por todos os seus meios possíveis. Observem como o medo tem esse poder, se andando por uma rua muito escura e vazia nos aparece alguém e lentamente esse alguém se aproxima, ele coloca a mão por baixo da camiseta para tirar o aparelho de telefone celular e passa por você e vai embora; não venha me dizer que não teríamos medo de tal situação, nossas mentes estão contaminadas por noticias do tipo: “ um rapaz estava andando pela rua e foi abordado por um individuo armado que lhe deu dois tiros logo depois de ter roubado-lhe a carteira e o celular”
Já saímos de casa amedrontados por essas noticias e lá nos Estados unidos esse medo se dá por acreditarem que em cada esquina pode se encontrar um terrorista.
O homem se tornou escravo do seu medo e se entrelaça a cada dia nele, a violência se alimenta do medo, fazendo com que as mentes maldosas possam atuar livremente pelas ruas fazendo dela seu território e ai daquele que ousar sair pelas ruas com atos de heroísmo, o medo acabará com o homem, pois esse novo estilo de vida em suas fortalezas só criará uma raça inútil, incapaz de se movimentar, de pensar e de encontrar meios racionais para acabar com seu próprio medo.