RECANTO DAS LETRAS

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

SIMULACROS E SIMULAÇÕES

SIMULACROS E SIMULAÇÕES

BAUDRILLARD, Jean. Simulacro e simulação. Lisboa, Relógio D’água,
1991.



Baudrillard é tido como um dos principais teóricos da pós-modernidade. Alguns, inclusive, consideram este professor de sociologia o grande pregador da pós-modernidade. Num primeiro momento, assim como Foucault, Deleuze e Guattari, Baudrillard nunca se considerou pós-moderno. Somente a partir de 1980, Baudrillard admite classificar sua teoria como pós-moderna. Inclusive o termo aparece nos seus escritos. A influência de suas idéias pode ser percebida nas discussões de teoria cultural, teoria da comunicação, arte contemporânea e sociedade atual.

Desde seu primeiro livro, O sistema dos objetos (1968), há certa perspectiva que permeia as obras de Baudrillard. Segundo ele, há certa estrutura que marca a sociedade atual, constituída pelo sujeito observador e desejante que se coloca diante do mundo dos objetos e dos signos. Não é gratuitamente que seu primeiro livro se chama O sistema dos objetos. Dentro desta perspectiva, este primeiro livro buscava abordar os signos e os objetos. Em 1977, Baudrillard lança Esquecer Foucault, com virulenta crítica a Foucault
[1], assim como a Deleuze e Guattari. Esta obra é fundamental no desenvolvimento do pensamento de Baudrillard. A partir deste momento, sua obra assume caráter mais cínico, niilista e a-político.

O livro Simulacros e simulações, de 1981, marca certa ruptura no pensamento de Baudrillard, aprofundando algumas idéias presentes em Esquecer Foucault. Até o início da década de 80, Baudrillard é profundamente marcado pelas teorias marxistas, ainda que sua abordagem seja caracterizada por certa crítica ao marxismo. Na perspectiva de Baudrillard, não importa se as necessidades sejam reais ou verdadeiras, ou se o trabalho seja livre ou alienado. Estes conceitos marxistas ainda se inserem na lógica do capitalismo produtivo. A alternativa revolucionária é a troca simbólica capaz de romper com o utilitarismo, revelando as forças dionisíacas do jogo e da festa. Nesta breve menção ao pensamento de Baudrillard fica patente outra fonte de seu pensamento: a semiótica e a semiologia. Assim como muitos de seus contemporâneos do movimento estudantil de 68, Baudrillard alia marxismo e semiótica/semiologia na sua abordagem, daí a importância dos signos.

Se antes da década de 80, Baudrillard apenas ensaia sua perspectiva pós-moderna, a partir de Simulacro e simulações, os conceitos pós-modernos se tornam claros. A partir deste momento, Baudrillard constitui sua trindade: simulações, implosão e hiper-realidade. Também neste momento, Baudrillard contrasta a modernidade, caracterizada pelo capitalismo produtivo, com a era constituída por simulações e por novas formas de tecnologia, cultura e organização social. Se a modernidade foi a era da produção controlada pela burguesia, a pós-modernidade é a época das simulações e dos signos governados pela cibernética, por modelos e por códigos.

Na obra Simulacros e simulações, parte-se do conceito de implosão de McLuhan para se afirmar que a distinção entre mundo real e simulação (ou imagem) foi implodido. Não há, portanto, fundamento para o mundo real. Segundo Baudrillard, o tempo atual é o deserto do próprio real, pois o simulacro precede o real. Aliás, ele substitui o real, visto este não ser mais possível senão como vestígio. Todos já ouvimos a frase de que a arte imita a vida, especialmente quando identificamos situações do cotidiano num filme, numa novela, numa peça de teatro, num romance, etc. Para Baudrillard, entretanto, ocorre justamente o contrário na sociedade atual. A vida passa a imitar a arte.

No capítulo intitulado China Syndrom, Baudrillard cita certo exemplo que vivenciamos a todo o momento. Neste filme China Syndrom, um canal de TV faz uma reportagem numa usina nuclear. Esta visita acaba por provocar um acidente na usina, deixando todos em pânico. Baudrillard narra, então, que logo após o lançamento do filme, aconteceu um acidente numa usina. O que se observou neste acidente foi que o comportamento das pessoas se assemelhou ao do filme. É curioso observar como, recentemente, quando ocorre alguma catástrofe os jornalistas sempre recuperam algum filme em que é narrado algo parecido. Por ocasião do ataque às torres gêmeas em Nova York, houve inúmeras comparações entre este episódio e o filme Nova York sitiada. Inclusive, alguns jogos eletrônicos também simulam episódios e acabam por se configurar como modelo para quando eles realmente acontecem. Logo após a queda da URSS, foi lançado um jogo de computador no qual o presidente, por razões de saúde, tem de ausentar por um período e ocorre um golpe. Dois anos depois do lançamento deste jogo eletrônico, ocorreu algo parecido. O então presidente da Rússia se retira para sua casa de campo e há tentativa de golpe. Houve também um programa, chamado no Brasil de Platão Médico, que exibia o cotidiano de um hospital. Nos EUA, durante a exibição desta série, os atores foram convidados a dar palestras para os médicos interessados em seguir seu padrão de comportamento. Desta forma, o médico simulado se tornou o modelo para os médicos “reais”. Poderíamos citar aqui inúmeros outros exemplos, mas estes já são suficientes para ilustrar como este elemento faz parte do nosso cotidiano.

O hiper de hiper-realidade é muito mais do que prefixo. A hiper-realidade nos aponta para a queda das barreiras entre real e irreal. Ele nos indica que o real é produzido a partir de um modelo simulado. Logo no início, o autor nos dá o exemplo dos EUA e a Disneylândia. As relações sociais neste mundo de fantasia acabam por se tornar paradigma para a sociedade americana. No fundo, a sociedade americana quer se tornar uma grande Disneylândia. O simulacro se torna modelo. Em poucas palavras, a hiper-realidade é a situação na qual o real é substituído por modelos. O modelo se torna determinante do real, de forma que as fronteiras entre cotidiano e hiper-realidade são apagadas. As simulações se constituem em realidade, se tornam o paradigma da realidade. Baudrillard não afirma que o real seja impossível, apenas que ele é cada vez mais artificial. O real se esvai no arrazoado de imagens e signos. Nas palavras de Baudrillard, “A simulação caracteriza-se por uma precessão do modelo, de todos os modelos sobre o mínimo facto – os modelos já existem antes, a sua circulação, orbital como a da bomba, constitui o verdadeiro campo magnético do acontecimento. Os factos já não têm trajectória própria, nascem na intersecção dos modelos, um único facto pode ser engendrado por todos os modelos ao mesmo tempo” (p.26).

Como o livro foi escrito na década de 80, aparecem muitos exemplos ligados à ameaça nuclear. Neste contexto de ameaça, Baudrillard afirma: “De certo modo como as centrais nucleares: o verdadeiro perigo que elas constituem não é a insegurança, a poluição, a explosão, mas o sistema de segurança máximo que irradia à sua volta, um verniz de controle e de dissuasão que se estende, pouco a pouco, a todo território, verniz técnico, ecológico, econômico, geopolítico” (p.81). Ou seja, o grande problema das usinas é a panacéia que se cria em torno delas, simulando perigo. Entretanto, aqui parece que Baudrillard inverte as coisas, confundindo causa com efeito. Tomemos o exemplo dos recentes ataques ocorridos em São Paulo. Na segunda-feira, o medo foi puro simulacro. A grande parte dos ataques havia acontecido no final de semana. Entretanto, a mídia colocou todos em pânico na segunda-feira, quando a incidência dos ataques foi infinitamente menor. Isso é, na segunda-feira os ataques foram puro simulacro. Entretanto, havia algo que deva subsídio para tal construção. O final de semana havia sido violento. O mesmo ocorre com as usinas nucleares. Há certo perigo com as usinas, os vazamentos realmente consomem as pessoas. Entretanto, há também muito de simulação. Na hiper-realidade a distinção entre política e imagem, informação e entretenimento se confundem. Todos sabemos que na política atual é mais importante a imagem do que propriamente a “substância” política. Neste contexto, em que a imagem se torna mais importante do que a política, o cientista político é substituído pelo “marketeiro”.

Desta maneira, se o capitalismo produtivo era caracterizado pela explosão (expansão de produtos, indústria, ciência, tecnologia, fronteiras, etc), a implosão marca o período contemporâneo. A implosão revela certa entropia que conduz ao desmantelamento de fronteiras, incluindo a do sentido. Baudrillard abre o capítulo Implosão do sentido nos Media com uma frase que resume bem este ponto: “Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido” (p.103). Mas como explicar isso? Segundo Baudrillard, “A perda do sentido está diretamente ligada à acção dissolvente, dissuasiva, da informação, dos media e dos mass media” (p.104). A perda do sentido ocorre não por falta, mas por excesso. As massas são bombardeadas, convocadas a votar, a escolher, a participar da vida social, a consumir, a trabalhar, etc. tudo isso gera certa apatia. As massas se tornam ressentidas e entediadas. Com isso, a vida social desaparece, assim como as distinções entre classes, ideologias políticas, formas culturais, etc. Tudo isso é implodido. A descrição de Baudrillard parece nos lançar num mundo vertiginoso, onde as fronteiras tradicionalmente bem demarcadas são implodidas num interminável e indiferenciado fluxo de simulacros.

Para Baudrillard, a pós-modernidade é a resposta ao vazio e à angústia que nos leva à simulação do passado. É a neurótica procura pelos referenciais estáveis que davam substância aos signos
[2]. “Por toda parte se reciclam as faculdades perdidas, ou o corpo perdido, ou a sociabilidade perdida, ou o gosto perdido pela comida. Reinventa-se a penúria, a ascese, a naturalidade selvagem desaparecida: natural food, health good, yoga” (P.22). A partir disso fica mais claro o que Baudrillard entende por simulação. “Disssimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo a uma ausência” (p.09).A simulação se torna ainda mais complexa, visto ser não pura e simplesmente fingimento. Aquele que simula uma doença pode começar a sentir certos sintomas desta doença. Do ponto de vista estritamente biológico pode não haver nenhum problema, mas para a psicologia esta pessoa pode ser considerada doente. Aonde pretende chegar Baudrillard com estas distinções? Para ele, a simulação “põe em causa a diferença do ‘verdadeiro’ e do ‘falso’, do ‘real’ e do ‘imaginário’” (p.09-10).

Como este livro é de transição é possível ainda encontrar rastros do engajamento político de Baudrillard. Segundo ele a transgressão simbólica pode nos conduzir à revolução cultural. Segundo o autor, o capitalismo foi o primeiro a se utilizar da redução de tudo a valor, da simulação e da hiper-realidade. Entretanto, hoje ele sente as ameaças destas categorias. (p.33). Como o poder sabe muito bem controlar a situação quando há referenciais fixos, há tentativas de se injetar referenciais em todos os lugares. Isso leva à histeria da produção do real, que marca nossa época. “O que toda uma sociedade procura, ao continuar a produzir e a reproduzir, é ressuscitar o real que lhe escapa. É por isso que esta produção ‘material’ é hoje, ela própria, hiper-real. Ela conserva todas as características do discurso da produção tradicional mas não é mais que a sua refracção desmultiplicada (assim, os hiper-realistas fixam numa verossimilhança alucinante um real de onde fugiu todo o sentido e todo o charme, toda a profundidade e a energia da representação). Assim, em toda a parte o hiper-realismo da simulação traduz-se pela alucinante semelhança do real consigo próprio” (p.34). É tentativa de recuperar a ausência que marca a simulação, concedendo-lhe substrato.

A glorificação dos simulacros – algumas observações críticas
A primeira crítica a ser feita ao texto de Baudrillard é ser por demais unilateral. Baudrillard concebe a realidade somente sob a ótica do signo e do simulacro. Ele percebe simulacros em toda parte. Reconhecemos a relevância de sua abordagem por nos chamar a atenção para este aspecto da sociedade contemporânea, entretanto, ela não pode dar conta de explicar tudo.

Devido à sua unilateralidade, Baudrillard não consegue perceber as continuidades entre modernidade e pós-modernidade. Por exemplo. No capítulo, O fim do panóptico (clara crítica a Foucault), o autor cita o exemplo de certo programa de televisão semelhante os realities shows atuais. Neste programa, realizado ainda na década de 70, o cotidiano de uma família modelo dos EUA é acompanhado por diversas câmeras, dia a dia. Analisando este TV Show, Baudrillard conclui: “Fim do sistema panóptico. O olho da TV já não é a fonte de um olhar absoluto e o ideal do controle já não é o da transparência. Este supõe ainda um espaço objectivo (o da Renascença) e a omnipotência de um olhar despótico. É ainda, se não um sistema de encerramento, pelo menos um sistema de quadriculação. Mais subtil, mas sempre em exterioridade, jogando na oposição do ver e do ser visto, podendo mesmo o ponto focal do panóptico ser cego” (p.42). Agora, já não é você que vê a TV, mas é a TV que vê você. É a inversão do vigiar e punir, com a implosão da distinção entre ativo e passivo. Entretanto, será que é a inversão ou a exacerbação do modelo panóptico? De repente, todos estamos exercendo o vigiar e o punir de um grupo de pessoas convivendo dentro de uma casa. É o espalhamento do panóptico para toda a sociedade. Ao invés de ruptura com a modernidade, é a disseminação do panóptico para toda a sociedade, concedendo a cada um o olhar despótico.

Em segundo lugar, Baudrillard não afirma quais interesses subjazem, mantém e promovem a hiper-realidade. Quais interesses ela atende? Quem sai beneficiado com a simulação e com a hiper-realidade? Qual o sistema econômico que leva a tudo isso? Estas são questões não respondidas por Baudrillard. Antes da década de 80, Baudrillard se preocupava com questões políticas e econômicas. Entretanto, no período posterior tem dado pouca atenção ao assunto. Contra isso, muitos críticos têm se levantado.

A crítica mais incisiva, entretanto, que gostaria de fazer a Baudrillard se refere à metafísica. Na segunda página de seu livro Baudrillard afirma que o mundo da simulação e do simulacro significa a superação da metafísica: “É toda a metafísica que desaparece” (p.08). No entanto, será que as coisas são tão simples assim? Vejamos.

A crítica de Baudrillard à metafísica parece ter ressonâncias nietzschianas. Para Nietzsche, metafísica era sinônimo de platonismo. O platonismo, filosofia que marca todo o Ocidente, criou um mundo ideal que controla, dá direção e horizonte ao mundo aparente. Este mundo inteligível tem mais ser do que o mundo sensível, marcado pelos simulacros. Basta nos lembrarmos da alegoria da caverna. Nela Platão narra os seres humanos presos por correntes dentro de uma caverna, incapazes de se virarem a fim de olhar para fora da caverna. Eles apenas vêem as sombras na parede da caverna (simulacros) e julgam estas imagens como verdadeiras. Entretanto, a verdade do mundo sensível está em outro lugar. A referência dos signos e o ponto estabilizador das imagens estão fora da caverna, no mundo das idéias. Para Baudrillard, superar a metafísica significa demolir este mundo real que há por detrás do mundo aparente. Não há mundo real, apenas simulacros e simulações.

O problema, entretanto, é que Baudrillard simplesmente inverte a lógica metafísica, o que não significa rompimento. A superação do platonismo não pode se dar por essa simples inversão. O que Baudrillard faz nada mais é do que atribuir ao mundo aparente o antigo status do mundo das idéias de Platão. Nietzsche, já havia dito que o mundo verdadeiro se tornou uma fábula. Entretanto a frase não pára aí: “Abolimos o mundo verdadeiro: que nos restou? O aparente, talvez?... Não! Com o mundo verdadeiro abolimos também o mundo aparente”
[3]. Nietzsche não inverte as coisas, mas procura subvertê-las. O que nos resta depois da fabulação do mundo verdadeiro e da dissolução do mundo aparente é assumir a interpretação enquanto constituição do mundo. Este não possui nenhuma estrutura, seja o mundo das idéias de Platão ou mesmo a glorificação dos simulacros. Se os simulacros ainda possuem a dignidade do mundo verdadeiro da metafísica, nenhuma metafísica foi superada.

Este elemento desencandeia alguns problemas do texto de Baudrillard. Grande parte das vezes seu texto é descritivo, revelando o quanto seu texto ainda está preso ao pensamento representacional. Isso significa que Baudrillard pretende descrever de forma acurada como as coisas são no mundo dominado por simulacros. Isto é, escrever um texto referencial para afirmar o fim do referencial. Em outras palavras, seu texto pretende descrever a “realidade” do mundo dominado por simulacros, sem reconhecer que sua abordagem também é simulacro. Em termos mais textuais, não raras vezes aparece o termo “verdade” para mostrar como as coisas são. Em pelo menos duas citações que fizemos de seu texto aparece este aspecto. Por exemplo. “De certo modo como as centrais nucleares: o verdadeiro perigo que elas constituem não é a insegurança, a poluição, a explosão, mas o sistema de segurança máximo que irradia à sua volta, um verniz de controle e de dissuasão que se estende, a pouco e pouco, a todo território, verniz técnico, ecológico, econômico, geopolítico” (p.81). Assim, o simulacro é o verdadeiro. Este aspecto faz com Baudrillard se prenda àquilo que sempre critica: a realidade social. Para o sociólogo, não existe nem realidade, nem o social. Entretanto, a todo o momento o que se procura descrever é a realidade dos simulacros e sua inserção social.

Por fim, é preciso reconhecer o mérito da obra de Baudrillard. Este texto foi escrito no início da década de 80. Muitas observações de Baudrillard que hoje começam a se tornar moeda corrente, neste período ainda eram muito obscuras. A sociedade da comunicação generalizada ainda dava seus primeiros passos. A argúcia na percepção de certos fenômenos revela o olhar atento de Baudrillard. Isso faz com que sua obra, em muitos aspectos, ainda permaneça atual para pensarmos a condição pós-moderna.

Anexo: Religião em Simulacros e simulações
Em Simulacros e simulações, Baudrillard menciona a religião poucas vezes e, em geral, de forma rápida. Neste anexo, reunimos algumas partes em que a religião é mencionada.

Baudrillard relaciona o simulacro com a religião, partindo do debate entre iconoclastas e a teologia do visível (expressa nos múltiplos ícones). Os iconoclastas, ao tentarem apagar os ícones das consciências “deixam entrever, destruidora, aniquiladora, de que no fundo Deus nunca existiu, que nunca existiu nada senão o simulacro e mesmo que o próprio Deus nunca foi senão o seu próprio simulacro – daí vinha a sua raiva em destruir as imagens (...) Mas o seu desespero metafísico provinha da idéia de que as imagens não escondiam absolutamente nada e de que, em suma, não eram imagens mas de facto simulacros perfeitos, para sempre radiantes no sue fascínio próprio” (p.12). Por este motivo, os iconoclastas é que atribuíram o justo valor aos simulacros.

“Toda fé e a boa fé ocidental se empenharam nesta aposta da representação: que um signo possa remeter para a profundidade do sentido, que um signo possa trocar-se por sentido e que alguma coisa sirva de caução a esta troca – Deus, certamente” (p.13). Aqui, segundo Baudrillard, trava-se certa luta. De um lado, a representação acredita que a linguagem nada mais é do que signo que se dirige e se refere a algo além dele. “A simulação parte, ao contrário da utopia, do princípio de equivalência, parte da negação radical do signo como valor, parte do signo como reversão e aniquilamento de toda a referência” (p.13).
* O autor é bacharel em teologia pela Escola Superior de teologia do Instituto Concórdia de São Paulo (EST-ICSP) e em História pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre e doutorando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Pesquisador CNPq para a área de Ciências da Religião.
[1] A principal crítica de Baudrillard a Focault é que sua abordagem ainda está presa à modernidade, se tornando obsoleta para compreender uma época determinada pela simulação. As teorias clássicas não conseguem explicar este novo contexto. Por se prender a teorias clássicas, Foucault não explicar os mecanismos contemporâneos de poder: mídia, consumo, moda, etc. O problema da crítica de Baudrillard é ser unilateral, como se os sistemas de poder incluíssem tudo aquilo que ele menciona e que Foucault se esqueceu. Não há como negar a relevância daquilo que Foucault aponta em sua obra. Nem tudo é signo, simulacro e imagem.
[2] Baudrillard trata deste tema várias vezes no decorrer do livro. De forma especial no capítulo intitulado A história: um cenário retro.
[3] NIETZSCHE, F. O crepúsculo dos ídolos. “Como o mundo verdadeiro se tornou uma fábula”. P.32

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